A Fatura Geral do Estado
É sabido que, em tempos de crise, a criminalidade aumenta, mas a capacidade criativa dos bandidos portugueses consegue ser sempre surpreendente. Já conhecíamos o carjacking e outras trafulhices, mas a mais recente modalidade de assalto ultrapassa tudo o que já tínhamos visto - e é importante prevenir os cidadãos, para que não caiam nas garras dos meliantes. Preste atenção, portanto, e fuja o mais depressa que conseguir se vier a deparar-se com a seguinte situação: estes assaltantes atacam em grupo e parecem inofensivos, uma vez que vestem fato e gravata, mas de repente há um que se chega à frente com uma pen na mão. Quando der por si, está a entregar-lhes todo o seu dinheiro.
Consegui enganá-lo durante algum tempo, amigo leitor? Ou percebeu imediatamente que se tratava de um naco de boa comédia em que, como é tradicional, se equipara o governo a um bando de gatunos? Enfim, quando os conhecimentos de economia são tão rudimentares como os meus, estamos condenados a fazer este tipo de comparação um pouco primária e inevitavelmente distante da realidade. Por sorte, o governo parece ser tão ignorante como eu nestas matérias. É evidente que há, no Ministério das Finanças, uma confusão enorme relativamente à natureza dos documentos comerciais. Aquilo que Teixeira dos Santos apresentou não é bem um orçamento. Já é a fatura. E temos uma conta calada para pagar. Bem vistas as coisas, Portugal não é bem um país, é um mau negócio: é demasiado caro para aquilo que oferece.
Mesmo sendo pouco versado nestas matérias, sei o suficiente para detetar no Orçamento a sua principal influência no que diz respeito ao pensamento económico: o xerife de Nottingham. Era um grande vulto da política de austeridade, embora talvez fosse um pouco mais moderado. Recordo que este Orçamento vem impor austeridade à política de austeridade anterior, que não se revelou suficientemente austera. Tendo em conta a capacidade que a crise tem tido para resistir aos nossos sacrifícios, é possível que haja novas medidas de austeridade em breve. Um novo aumento do IVA parece fora de hipótese, e torna-se cada vez mais difícil reduzir os salários quando começa a não haver salários para reduzir. Prevejo a obrigatoriedade de cada cidadão oferecer dois litros do seu sangue ao governo. O suor já levaram todo.
in clix.visao.pt
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