google.com, pub-5297207495539601, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Vila Espanca: Ricardo Araújo Pereira - Boca do Inferno

Ricardo Araújo Pereira - Boca do Inferno



Fragmentos de um discurso que era realmente amoroso






Os leitores que acompanham as reuniões do Conselho de Segurança da ONU (os que não acompanham estão a perder o que a vida tem de melhor, e vão acabar por chorar esse desperdício, no leito de morte) assistiram, esta semana, a um momento de grande prestígio para o nosso país. É certo que só durou três minutos e deveu-se a um engano bastante caricato, mas prestígio é prestígio. O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano dirigiu-se à câmara, exprimindo o seu mais profundo regozijo por haver atualmente dois membros da comunidade lusófona naquele órgão. A lusofonia foi celebrada por um dirigente indiano com um entusiasmo que os dirigentes lusófonos não costumam exibir. A sala comoveu-se. Ao menos a parte da sala que não estava a dormir. Aquele apreço pelo português indicava a importância do nosso idioma, indicava a pujança da língua de Camões, e indicava também que tinha ocorrido um lamentável engano: o ministro dos Negócios Estrangeiros português tinha deixado o seu discurso em cima da mesa e o ministro indiano - que, como é evidente, não tinha ouvido o discurso do ministro português nem tinha escrito o seu - começou a lê-lo até que, três minutos depois, um dos seus assessores deu pelo erro e fez com que ele passasse a ler o discurso certo. Que, surpreendentemente, não fazia qualquer referência à comunidade lusófona, antes começando com uma citação de Gandhi. E foi assim que, pela primeira vez na História, alguém, numa intervenção pública, citou primeiro Luís Amado e depois o Mahatma.

O episódio, apesar de burlesco, consegue, ainda assim, ser edificante. Há anos que os nossos responsáveis políticos tentam descobrir, sem sucesso assinalável, o melhor modo de promover a lusofonia. A solução, afinal, era fácil: basta ser desarrumado. Espalhar uns discursos numa sala cheia de altos dignitários estrangeiros e esperar que um deles comece a lê-los por engano.

Por outro lado, trata-se de uma ocorrência que pode explicar alguns aspetos da nossa crise. Se um dirigente indiano pode ler discursos portugueses por engano, é possível que um dirigente português ande a ler discursos indianos sem se aperceber. Certas notícias recentes sugerem que Sócrates pode ter implementado, inadvertidamente, medidas indianas no nosso país. Ainda na semana passada se soube que, em 2010, os bancos tinham pago menos 55% de impostos do que em 2009, ano em que, no primeiro semestre, já tinham pago menos 30% de impostos do que no mesmo período de 2008. Esta situação de privilégio demonstra claramente que alguém introduziu por engano o sistema de castas na política portuguesa. Creio que é urgente acabar com este intercâmbio de discursos entre Portugal e a Índia. Por muito que isso prejudique a lusofonia.



in clix.visao.pt


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“Se há característica irritante em boa parte do povo português é a sua constante necessidade de denegrir e menosprezar o que é feito dentro de portas. Somos uma nação convicta de que nada de bom pode sair da imaginação do português comum e que apenas o que nos chega do exterior é válido e interessante.”