google.com, pub-5297207495539601, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Vila Espanca: Dancing The 90′s Away - Parte II

Dancing The 90′s Away - Parte II

Uma crónica de quem viveu mais ou menos intensa o BOOM da música de dança em Portugal.

 Sim, de facto parecia que Portugal seria um novo paraíso para a música de dança. Começaram a aparecer mais produtoras de festas, mais agências, mais festas, mais lojas de discos e mais compilações misturadas…quem na altura não se lembra das compilações da Kaos, do Alcântara-Mar, do X – Club (já lá vamos…) ou do Top DJs ?

 Uma das produtoras (que ao mesmo tempo era agência) que mais sobressaiu durante esta altura (algures entre 1996 e 1999) foi sem dúvida o X – Club. Começou primeiro por estar associada aos já célebres “afters” no Teatro da Lanterna Mágica e associado ao nome X – Club estavam DJs como Mário Roque aka X-Man, XL Garcia, Jiggy, A.Paul, Flick, Luís Leite, Paulo Leite, Double Z, Zé Mig-L ou DJ Ferro, entre outros. Posteriormente dedicou-se a produzir festas de com dimensões bem maiores, festas essas que ficaram na memória de muitos (e que hoje em dia até têm contornos quase míticos).


 Na altura o Techno começou a despontar como um estilo de massas (bem mais que o House, que ainda era considerado elitista) e o X – Club apostou nisso pois era o que os DJs mais passavam. A primeira grande festa que mostrou que o X – Club vinha para ficar foi no Castelo de Monsaraz, com Trevor Rocklife e Mário Roque aka X-Man a proporcionarem grandes sets a quem lá esteve. Pouco depois decidiram trazer Carl Cox, para uma festa inesquecível no Estaleiro Naval da Figueira da Foz (para além de terem também vindo Eric Powell, Les Ryder e DJ Skull). Aposto que foi rara a festa que conseguiu juntar tanta gente no mesmo sítio, e tudo pessoal que ia apenas com o intuito de se divertir e de estar na boa onda, a curtir o que mais “cutting edge” se estava a fazer no Techno na altura, e com um cenário tão industrial, a condizer com perfeição com a música. Ainda hoje recordo com muitas saudades essa festa, e não me esqueço de, quando estava a nascer o Sol, o Carl Cox ter passado uma música mais suave, a condizer com aquela envolvência toda…A Kaos também fez as suas grandes festas nesta altura, sobretudo as primeiras Tecnolândias, mas definitivamente era o X – Club que estava na mó de cima.

 Mais festas houve, como a 3D (onde pela primeira vez vieram a Portugal nomes como Dave Angel, Darren Price e Dave Clarke), a F.A.C.T. 2 em Coimbra, onde Carl Cox regressou a Portugal pela 2ª vez e trouxe-se pela 1ª vez os Advent, ou aquele que, basicamente, foi o 1º Festival de música de dança/electrónica em terras lusas: o Neptunus. O Neptunus, na altura, teve daqueles “line-ups” que eram quase de sonho…ora vejam, numa mesma festa, nomes como Stacey Pullen, Layo & Bushwacka, Mr. C, Carl Cox, Planetary Assault Sytems, DJ Sneak, Doc Martin, Roger Sanchez ou Júnior Sanchez…para a altura parecia incrível. Mas pela altura do Neptunus já eu, e muito pessoal amigo, andávamos desiludidos com a forma como a cena do Techno estava a evoluir. Ainda por cima, a partir de certa altura, o desfasamento entre o som que os DJs portugueses passavam e o que os DJs estrangeiros convidados passavam era por demais evidente.

 Enquanto que os DJs estrangeiros passavam cenas com “groove” e, de certa forma, subtis, os portugueses queriam era “partir cascalho”…salvo raras excepções, como o Flick, e até certa altura, o A.Paul; o som, quanto mais “dark”, pesado e acelarado, melhor…e, para mim, tornava-se massacrante estar a ouvir um set da maioria dos DJs do X – Club. No Neptunus foi quando se começou a ouvir os primeiros “reports” acerca de comportamentos impróprios num tipo de celebração que se quereria de paz e boa-onda…relatos sobre assaltos e violações deixaram-me muito triste na altura, e por vezes pensava que o tipo de som mais “pesado” não seria em parte responsável por alguma má-onda que se estava a começar a sentir…

 No Neptunus lembro-me que o intuito principal era ir ouvir nomes como Stacey Pullen ou Layo & Bushwacka (ambos fizeram excelentes sets), e sobretudo, ir para a pista de House. Para variar, a pista nunca esteve muito composta, mas foi sem dúvida onde se deve de ter ouvido a melhor música de todo o festival. Foi muito bom ter apanhado nomes como Doc Martin, Roger Sanchez ou Dj Sneak quando ainda não eram nomes assim tão falados quanto isso. Fizeram sets excelentes, e basicamente apresentaram um som House cheio de “groove”, e numa altura em que o chamado “Filtered Disco” estava a começar a aparecer em força (e não fosse DJ Sneak o pioneiro desse tipo de som).

 Atrás do X – Club apareceram inúmeras produtoras de festas (umas com mais, outras com menos, sucesso), e deu-se um fenómemno de massificação de festas…entre os finais de 1996 e inícios de 1998 era raro o fim-de-semana em que não havia pelo menos uma suposta grande festa. O caricato era ver produtoras que supostamente eram concorrentes do X – Club, a contratar DJs do mesmo. Houve alturas em que num mesmo fim-de-semana via-se DJs como o X – Man ou o Jiggy passar som em três ou quatro festas diferentes. Obviamente, era impossível haver festas a um ritmo desses, sem que algo descambasse…umas vezes as condições, tanto para os DJs passarem som, como para o bem-estar entre o público não eram as melhores, começou a haver casos de os supostos cabeças de cartazes nem sequer saberem que iam passar som a determinada festa e começou também a notar-se uma enorme degradação do ambiente nas festas.

 Lembro-me que na última festa de Techno a que fui, senti-me inseguro, e nem sequer me atrevia a ir sozinho para qualquer lado, não era para isto que eu ia a festas, ia para me divertir, para curtir a música, ter de estar numa festa a ter de olhar para todo o lado, e a sentir que havia perigo iminente não, obrigado. E foi aí que, infelizmente, começou a haver uma nítida separação dos públicos.

Quem não estava para se sentir inseguro, ia para as festas de House da Kaos (a Kaos, inteligentemente, apercebeu-se do degradar do ambiente nas festas de Techno, e começou a apostar praticamente só nas festas de House, mantendo apenas a Tecnolândia), quem não se chateava com o ambiente nas festas de Techno, basicamente, continuava a frequentar as festas do X – Club ou de outras produtoras que apostassem no Techno. Infelizmente, mais tarde (mas isso já neste século), a má onda também chegou ás festas de House, mas isso ficará para uma retrospectiva da 1ª década do século XXI…

 Falando de festas de House da Kaos, ficou-me na memória uma festa na Páscoa de 1999, na discoteca Locomia, no Algarve. O “line-up”, na altura, era de luxo…Masters At Work, Bob Sinclar, Erick Morillo, DJ Vibe, Ruizinho…Na altura eram nomes que estavam no auge, e que tanto produziam como passavam música com bastante qualidade, como em apenas 10 anos tanto mudou (não incluo aqui os M.A.W. , que, mal ou bem, quase sempre conseguiram manter a qualidade a que nos habituaram). Ouvir aquele maravilhoso som que os M. A. W. debitavam daquelas colunas enquanto todos dançávamos alegremente à volta da piscina da Locomia (houve quem se tivesse mesmo atirado à agua…era Abril, mas estava um dia de Verão…) é daqueles momentos que nunca mais se esquece.

 Obviamente, continuávamos a ir a clubes, sítios como o Kremlin e o Frágil. O Kremlin ressentiu-se um pouco quando DJ Vibe decidiu optar (e muito bem…) por uma carreira de “free-lancer”, mas pôs lá um DJ que passava um som bastante interessante, que era o Ruizinho. O problema foi quando o Ruizinho se foi embora, e puseram lá o Master G que optou por seguir um tipo de som mais “comercial” e menos desafiante para os ouvidos. Basicamente, estar no Kremlin ou no Alcântara-Mar era para mim quase a mesma coisa. Mas, entretanto, como já conseguíamos entrar sem grandes problemas no Frágil, era para aí que íamos ouvir o que de melhor se fazia, mercê de nomes como Rui Vargas, Rui Murka, Yen Sung, Pedro Ricciardi, Lino ou Kaspar. Começou-se também a ouvir com um bocadinho mais de frequência um estilo de som que era o Drum n’ Bass, sobretudo em locais como os já saudosos Captain Kirk ou Ciclone.

 No final da década começou-se também a recuperar algum do legado do Disco-Sound (no meu caso pessoal, porque queria descobrir donde vinha o que era “samplado” em muitos temas de House que gostava, e por ter sido nessa altura que comecei a ouvir falar mais a sério de nomes como Larry Levan ou Walter Gibbons) e também o legado do Jazz e de alguma música latino-americana, com nomes como Jazzanova ou Truby Trio. E começou-se também a ouvir falar de festas de Goa-Trance ou Trance Psicadélico. Já tinha ouvido entretanto uma ou outra coisa do estilo, mas sinceramente, foi um tipo de som que nunca me disse grande coisa…lembro-me de ter ido a uma das primeiras festas, e de ter gostado imenso do ambiente, mas a música não me dizia mesmo nada, e quando vi então, nessa festa, um gajo já quimicamente alterado a dialogar com um “alien” desenhado na decoração, disse logo que este tipo de ondas não era mesmo para mim…eheh.

 Entretanto, abriu um clube em Lisboa que ainda hoje é uma referência dentro do melhor que se vai fazendo em termos de música de dança/electrónica…o Lux. Tendo aberto as suas portas em Outubro de 1998, preencheu, de certa forma, o espaço que o Kremlin de 1992/1996 tinha deixado vago. Nem de propósito, um dos residentes era DJ Vibe, em conjunto com Rui Vargas e Yen Sung, nomes de referência para quem gostava de música de dança/electrónica. Apostou numa vertente mais vanguardista dentro da música de dança, em contraponto aos tipos de sonoridades que na altura se ouviam em locais estilo o Kremlin ou o Alcântara-Mar. Para mim foi uma lufada de ar fresco, e o que disse acerca do Kremlin durante a era de 1992/1996 (ver a parte I deste texto) aplica-se ao Lux, e continua ainda hoje a ser das minhas casas favoritas para sair à noite.

 Em relação à noite de Setúbal…As coisas até melhoraram um pouco, mas acabava por nunca haver um projecto consistente, muito por culpa de quem geria as casas (e nalguns casos por se ter mesmo azar com os senhorios…). Ficaram na memória espaços como o Bubble Club (com o residente Nuno Graça e convidados), o Zona Livre (djs convidados), o Clube das Marés (com o residente Pedro Viegas e convidados), o Clubíssimo (com o Del Costa, embora se mantivesse no mesmo esquema da música de dança intercalada com os hits pop/rock), o Insómnias (com os residentes Marco Rodrigo e Dário), o Hipnótica (com o residente Model 9000, que era no espaço do Clubíssimo, após a gerência deste ter mudado, e que até hoje estou para perceber porque não deixaram este projecto desenvolver-se mais…), as 3ªs feiras e ocasionais matinés no Talbar (com Henri Sanrame, Marco Rodrigo e Miguel Marrucho), o Peste (que teve vários residentes, entre eles Henri Sanrame, Daniel Costa ou Mister Simon, e que se aguentou mais uns anos até 2004, se não estou em erro…), as 5ªs no ADN a cargo do DJ Urban aka Rogério Martins (onde se exploravam as sonoridades mais Deep dentro do House e do Techno..se bem que acho que quem tinha iniciado estas noites tinha sido o Model 9000), o Amadeus Club ( com o residente Daniel Costa e convidados), e as sextas feiras mensais no Conventual, de nome Puro House, da responsabilidade de Del Costa (hoje MaGaZino), e que regularmente trazia também convidados, alguns até internacionais, como o residente do Moog Club, DJ Loe.

 Obviamente, Setúbal também não escapou á “febre” das festas, e muitas delas tiveram lugar no TGV, umas com mais, outras com menos sucesso. Também me lembro de uma grande festa no edifício das Janelas Verdes, e também uma numa antiga fábrica de cerâmica, não muito longe do Auto Da Guerra, e também uma do X – Club no Clubíssimo. Não muito longe de Setúbal, no pinhal da Zambuja, ocorreram também as 1ªs edições do Boom Festival, que ainda hoje é bastante conceituado pelo mundo fora. Não me esqueço também das chamadas festas dos “freaks”. Eram assim chamadas porque eram festas ilegais feitas por estrangeiros, que devido ao aspecto, foram apelidados de “freaks”. Estas festas eram realizadas não muito longe de Setúbal, e até tinham bastante aderência. Pena é que a maioria das vezes as sonoridades passadas eram demasiadamente pesadas para o meu gosto – antes de ter sido destruída por um incêndio, a discoteca Seagull, na Arrábida, foi um dos primeiros locais a albergar festas de Goa/Psy Trance. 

 Apesar de ter chegado ao fim da década com algumas ilusões desfeitas, e de “A Paradise Called Portugal” afinal não se ter cumprido (apesar de haver condições para tal, sobretudo em espaços como o Algarve, que poderia muito bem ter sido uma nova Ibiza, e não o foi, bem antes pelo contrário…), ainda me mantive optimista, e pensei que muita coisa poderia ainda melhorar…mas arrisco a dizer que a situação está agora pior em 2009 do que estava em 1999. Ao menos continua a sair muito boa música (alguma dela até fortemente influenciada por coisas que foram editadas nos anos 90), e isso já não é pouco.

POR EDUARDO MARTINS (2009)
PARA : RUA DE BAIXO

1 comentários:

Anónimo disse...

Tens que Puxar Um Pouco a "Fita" Atráz.. Começar a Disser Tb, que o BOOM Começou Mais Cedo.. Talvez a Partir da 1º Grande RAVE em Portugal: "FEIRA VIRTUAL" (Verão de 1994), Realizado pela KAOS Rec., e pelo Pioneiro, Mestre e Responsavel pelo Impulsionar da DANCE em Portugal (sr. Antonio Cunha . KAOS)..! Depois Veio o Sr. Antonio Pereira (BLINDS), e Tomou Conta da "CATEDRAL" da Dance-Mucic: ROCK´S Club em Vila Nova de Gaia.., Só Depois em 1996 Veio o X-CLUB de BETO PERINO e CARVALHO.., com a Ajuda de MÁRIO-ROQUE, (Esse Sim Outro VISIONÁRIO das RAVES), Realizaram os Primeiros AFTERS em PORTUGAL (Lisboa)..! :-)

 

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