Espero que esta mensagem vos encontre bem, mas sobretudo, a ouvir boa música!
Gostaria de vos convidar a ler uma pequena entrevista que saíu comigo num blog de divulgação de projectos "escondidos" chamado Tejo Music Hall.
De qualquer das formas, tomo a liberdade de a reproduzir aqui, porque às vezes alguns poderão não ter tempo para visitar com atenção o site.
A nova geração cibernauta dos denominados "do it yourself" ajuda-nos a conhecer múltiplos projectos musicais de uma forma de arte absolutamente livre e despreconceituosa. Um desses exemplos é Gustavo Caldeira, cantor, músico, compositor, que não tem a estética como elemento abonatório, mas a vontade em fazer algo!
- Como é que te iniciaste na música?
- Foi algo muito espontâneo. Desde a infância que nutro um fascínio muito grande pela música e na altura não me passava pela cabeça um dia poder dominar algum instrumento.
- Decidiste cedo ser músico?
- No início da adolescência, através dos meus colegas de liceu. Um dia alguém me ouviu distraído a cantar ou assim e depois a partir daí começou tudo. Comecei a pedir uns trocos de cada vez que tocava na escola e isso era bom porque já pagava o lanche à custa das cantorias (risos)
- Tiveste uma aprendizagem auto-didacta.
- Sim, foi a força de vontade! Penso que uma capacidade nasce com a pessoa e a partir daí só a podemos alimentar e investir. Queria muito tocar, não tive formação musical nenhuma e então comecei a estudar afincadamente os livros de acordes de guitarra, de teclas... Estudava mais para a música do que para os testes, e por isso fiquei o burro que se vê! (risos) Depois existiu uma grande contribuição para o seguimento dessa aprendizagem: a música dos Beatles dos quais me tornei fã muito cedo.
- Sentes mágoa por continuares a ser um solista ou é por decisão?
- Sinto alguma frustração em relação a isso, sim. Criei já dois projectos, os Stereo e os Sweed, mas infelizmente não deu certo. Embora não possa parecer é muito difícil conseguir juntar sempre três ou quatro pessoas no mesmo local, para fazer os ensaios, trabalhar as canções. Há que haver uma grande vontade colectiva.
- Desististe de criar uma banda?
- Não! Muito pelo contrário. Acontece é que terei de dar tempo e espaço para que tal aconteça.
- Quando é que começaste a pisar os palcos?
- Foi em 2001, em Salvaterra de Magos. Fui a um bar onde havia música ao vivo naquela noite, um duo qualquer, e tinha grande vontade de actuar, mas um grande medo de dar barraca... Atrevi-me o suficiente para pedir para tocar e lá toquei (mal) umas três ou quatro canções. Depois com o tempo, evoluí mais seriamente.
- Como é que preparas os espectáculos?
- Muito em cima da hora, para me deixar levar pelo estado de espírito. Mas o importante é que me preocupo que quem me venha ver e ouvir dê o seu tempo e dinheiro por bem investido. Tento encarnar uma personagem no palco... Sinto aquilo que faço e as actuações são o mais importante que o músico tem. O palco é a minha psicanálise.
- O que te reserva o verão a nível de actuações?
- Nada! Podia ser daqueles gajos a dizer que têm os próximos quatro meses preenchidos, mas não é verdade. Em parte, por opção porque em Março decidi parar para reflectir e amadurecer, mas já me sinto muito parado! Para já vou compondo.
- Existem mais dificuldades para os músicos que provêm de cidades grandes ou pequenas?
- Isso, é relativo, a sorte ou o azar é exactamente o mesmo, mas penso que as grandes cidades oferecem mais oportunidades e exposição. Não só pelo facto de possuírem mais espaços, mas também por existir uma maior diversidade de gostos. Nas cidades pequenas, tenho a sensação de que existe uma concorrência estranha entre bandas e músicos, como se toda a gente estivesse de olho aberto a ver se alguém se safa primeiro...
- Dentro dos projectos desconhecidos, ainda existe entreajuda?
- Existe ainda muita entreajuda sim, e posso dizer que em certas situações, se não tivesse tido uma certa ajuda de alguns colegas, não teria chegado a meio. Das melhores recordações que tenho, é do convívio entre músicos, daquela história do "empresta-me aquele amplificador!"... É óptimo a união na luta pelo mesmo ideal. O que estraga toda essa comunhão são as disputas, e isso acontece em todas as profissões infelizmente.
- O que pensas sobre os novos fenómenos televisivos, como os D'Zrt, os 4Taste...?
- Vejo-os com uma perspectiva natural, não rouba o espaço a ninguém, na verdade... Já existem projectos desse tipo desde os Partridge Family, nos anos 70, no mínimo... Antes ainda haviam os Archies. Acaba por ter o aspecto positivo de os miúdos terem algo feito para eles de que gostem. No entanto, penso que seria mais adequado que ao invés de discos vendessem canecas ou T-Shirts.
- Defines-te num estilo musical específico?
- Cada compositor acaba por criar o seu próprio estilo, certo tipo de características nas canções que escreve, que interpreta, quer seja Folk, Salsa ou Punk. Ninguém se deve colar a uma certa vertente musical, as influências tendem a mudar e a técnica a evoluir. O que gosto mesmo de fazer é uma boa canção POP, que tenha um refrão orelhudo, mas sempre desejei entrar por outros caminhos. Já tentei o Rock, Clássica, Bossa Nova, Fado, e ainda quero mudar e apostar mais. O ecletismo acaba por trazer uma certa envolvência, e curiosidade especial à volta de uma obra. Depois a versatilidade é das melhores qualidades que um cantautor pode ter. Eu pessoalmente, sou influenciado desde o Glenn Miller à Aretha Franklin, passando por System Of A Down, sem qualquer preconceito. Na música não existem limites.
-Em qualquer situação ou ser que me marque. Sinto-me uma mistura de toda a gente que conheci, ou, guardo um pouco de todos, vivendo consoante o que aprendi com as vidas que se cruzaram comigo. Tenho sempre de escrever sobre isso. Mas não escrevo muito para alegres positivos, pois falo sempre sobre relações falhadas, dores de corno, criticas indirectas, desilusões… No fundo o que a vida nos garante sempre à partida.
- Se a tua geração acompanhar o desenvolvimento tecnológico, terá mais hipóteses de singrar? Nomeadamente através da divulgação na internet?
- Penso que a tendência será sempre de piorar, e sinceramente, não acho que mude assim tão rapidamente. Hoje em dia, a internet facilita em muito a divulgação a nível global, o que é espantoso! É muito estimulante receberes mensagens de vários pontos do mundo, a dizerem que ouviram a tua música e que gostaram. Há dez anos atrás, só poderia mostrar uma canção aos vizinhos, e já era muito! Agora posso promover música daqui até ao Egipto. A longo prazo, a internet abre portas importantes para os novos projectos - os Arctic Monkeys, por exemplo. O problema é que quem não edita discos não recebe frutos do seu trabalho, e toda a gente ouve e descarrega a música à borla... Merecíamos uma taxa, como a antiga taxa da televisão (risos). Chegará uma altura em que os artistas vão desistir das editoras e trabalhar para o download.
- Como vês o papel dos outros orgãos, como a Rádio e a Televisão na divulgação?
- Será sempre o papel mais importante, o da comunicação social. Temos mais fé na rádio, pois a TV tornou-se uma fogueira de vaidades, uma montra de caprichos, entretenimento bizarro... A imprensa escrita cria lendas e estatutos e é isso que procura! A rádio deveria ser um veículo de divulgação mais activo, mas não o é, salvo raríssimas e felizes excepções. Mas é a publicidade que a vai mantendo, as igrejas sui generis... Os próprios radialistas são obrigados a difundir temas que lhes impõem, nas playlists. Depois o peso maior é o factor produção, que chega a ser mais forte que o factor qualidade musical. O que é pena, pois nem toda a gente tem a oportunidade para gravar com uma excelente qualidade.
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