O Rock in Rio abre a temporada dos festivais de Verão. Retrato dos seis grandes, um a um, através de quem os faz (espectadores, artistas e programadores), enquanto dura a contagem decrescente
A causa tuga
É uma grande alegria, uma grande honra, pensa o português médio-baixo, que um festival tão bonito, tão pelas pessoas, se digne a visitar o nosso pequeno país. Porque o Rock In Rio não é tanto sobre o rock como é sobre, bem, sobre qualquer coisa com causas. E nós gostamos de causas porque nós, portugueses, gente sem ambições mas boa, até damos arroz uma vez por ano à saída do Pingo Doce, nós portugueses, que compramos sempre o Pirilampo Mágico, somos boa gente, pequeninos mas boa gente.
Ninguém sabe exactamente que causa define o Rock In Rio. É certo que em conferências de imprensa eles anunciam as causas que defendem e a percentagem de guito que irá para as causas, mas, valha a verdade, ninguém se dá ao trabalho de saber.
O ambiente não há-de ser de certeza, já que a pegada ecológica criada por este monstro deve ser maior do que a produzida pelas descargas da indústria de celulose nacional numa década (valores vagamente pouco científicos e potencialmente demagógicos). Mas há tanta causa por este mundo fora que certamente ao ir lá estaremos a contribuir para alguma coisa importante. E já que não temos colónias e vivemos mal, isso dá-nos uma certa noção de grandeza, faz-nos sentir que pertencemos ao mundo contemporâneo, que somos do agora.
O que é, na prática, o Rock In Rio? Um freak-show em que há alguma, muito pouca, música, ou, pelo menos e para sermos justos, muito pouco critério na escolha da música. Como em todos os festivais, perde-se mais tempo no bungee-jumping do que a ver concertos. Perde-se mais tempo a deslizar por uma corda do que a deslizar em vagas musicais. Perde-se mais tempo em concursos que envolvem destreza a pôr preservativos num dildo do que a ouvir música que obriga a uma certa destreza de ouvido.
Mas isto não é nada. Depois há as barracas em que, por exemplo, anões dançam ladeados por raparigas vestidas de hospedeiras - e aí sabemos que estamos numa espécie de "Twilight Zone" do entretenimento, em particular quando começamos a notar que de todo o lado há megafones a debitar palavras de ordem sobre as causas em brasileiro. É uma espécie de "1984" de Orwell em versão Broadway-de-favela, uma IURD legitimada.
Este ano, como sempre, há de tudo: Mariza, Ivete Sangalo (a rainha do comboínho), John Mayer (o suposto marialva do blues), Shakira, o regresso dos Trovante, Elton John, os 2 Many DJs, os Sum 41 (possivelmente a pior banda rock do mundo), os Xutos (porquê, Zé Pedro, porquê?), os Muse (os Queen em versão séria e menos gay, o que lhes tira a graça), os D'ZRT (rebolar no chão a rir), uma moça chamada Miley Circus, que tem 16 anos e de quem se diz ser ser um prodígio de qualquer coisa, e por fim Megadeth, Rammstein e os grandes Motorhead.
E como reage o tuga médio perante isto? Bem, o tuga médio vai com a família, come versões globalizadas de burritos que lhe dão a volta à tripa (elogio), reclama com a mulher quando ela quer dar dinheiro para mais uma causa, dá uns tapas no filho, pede a jornalistas aborrecidos para tirarem fotos à família enquanto tenta afastar a sogra do enquadramento e manda mais um tapa ao filho.
É preciso estar lá, é isto a cola que une a grande instituição familiar, um dia a foto ficará por cima do aparador das louças ao lado do galo de Barcelos e da música ninguém se lembrará, excepto talvez no caso da filha que mais dia menos dia tentará emular os tiques de Shakira com o namorado (que acabará a ser levado ao altar pelo sogro perante a ameaça de caçadeira). Um festival adorável. João Bonifácio
Rock in Rio Lisboa
Datas: 21, 22, 27, 29 e 30 de Maio
Local: Parque da Bela Vista, Lisboa
Preços: 58 euros (dia)
O Optimus Alive! é o festival por onde passaram Pearl Jam e Rage Against The Machine. É o festival aprovado por Isaltino Morais e pelo "New Musical Express", que primeiro o destacou em 2008 junto do público anglo-saxónico (o NME, entenda-se; quanto a Isaltino não temos informações que o confirmem), que traz a Portugal bandas destacadas pela "inteligentsia" indie, no momento em que estas são ainda nome de culto à beira de explodir (os MGMT e os Vampire Weekend em 2008, os Crystal Castles e Los Campesinos no ano passado). Digamos que é o festival da idade adulta dos festivais em Portugal.
Urbano, permite ver concertos e voltar a casa, o que é óptimo para aqueles que, depois dos anos de formação no Sudoeste, em Vilar de Mouros ou Paredes de Coura, já não têm pachorra para tendas e rituais de invocação do demónio em djembés mal afinados; o que é óptimo para a juventude com fobia à ruralidade que vive no eixo Berlim-Londres-Nova Iorque (real ou virtualmente) e que conhece todos os blogues que interessam e as bandas que interessam e a Pitchfork que interessa e a moda que interessa.
No Optimus Alive! existem habitualmente dois festivais por festival. No palco principal, levantam-se nuvens de pó com a nostalgia revolucionária dos Rage Against The Machine, presta-se vassalagem à maior banda de bar do mundo, os "virtuosos" Dave Matthews Band, vivem-se momentos históricos com os históricos Neil Young e Bob Dylan. É o espaço dos maduros, dos veteranos, do pessoal do rock como o rock deve ser. Do outro lado do recinto, no palco secundário, estão os óculos escuros Wayfarer, o aspecto cuidadosamente desleixado deles (um bigode porreiro aqui, umas calças justas em todo o lado) e o cintilar pop dos casacos delas, das leggings delas, das t-shirts com bolas coloridas estampadas, essas que pareceram multiplicar-se no ano passado, quando actuaram os Klaxons, e há dois anos, quando apareceram os Midnight Juggernauts.
Comparemos. Em 2008, parecia que o século XXI globalizado se reunia no palco secundário: tocavam os supracitados MGMT e Vampire Weekend, os Hercules & Love Affair ou as Gossip, e a divulgação além fronteiras trouxe até Oeiras ingleses, americanos ou australianos, identificáveis pelos escaldões e pelo sotaque - como a comunidade indie não conhece fronteiras, quanto ao resto, da indumentária à pose, não se distinguiam dos ibéricos. No ano passado, por sua vez, revezaram-se no palco principal fidelíssimos metaleiros (no dia de Metallica e Slipknot), um "melting pot" de proveniência diversa (como seria de esperar com Prodigy, Placebo e Blasted Mechanism) e pessoal dado a americanices mainstream (Dave Matthews Band, Black Eyed Peas e Chris Cornell).
Este ano, repetir-se-á a dose. Um festival no palco principal: grunge e uns seus afiliados a contragosto, com o regresso dos Pearl Jam, Alice In Chains e Faith No More - e uma lança de modernidade chamada LCD Soundsystem num cartaz que inclui também os Manic Street Preachers ou uns Skunk Anansie regressados da tumba. Outro festival no secundário: os XX, os New Young Pony Club, La Roux, Peaches ou The Drums. Entre um e outro, uma fila generosa de mesa de matraquilhos, que o internacional Optimus Alive! não deixa de ser festival português. Mário Lopes
Optimus Alive!
Datas: 8 a 10 de Julho
Local: Passeio Marítimo de Algés
Preços: 50 euros (dia) a 90 euros (passe)
Se ainda pertence ao tempo em que mundo se divida entre quem professava a cultura rock, a cultura hip-hop ou a cultura da música de dança, este não é o seu festival. Este é um evento para gente descomplexada, que cresceu já com um espírito sincrético, o único que faz sentido num mundo de comunicação fragmentada, onde as velhas dicotomias que nos ajudavam a pensar a cultura popular (arte vs. entretenimento, margens vs. centro, cultura vs. comércio) não passam disso - estão gastas, velhas, não nos servem.
Até a velha tentação de olhar para a cultura pop como coisa de adolescentes não passa na actualidade de uma idealização sem objecto. Hoje ninguém quer ser adulto. Somos todos jovens adultos ou eternos adolescentes. Independentemente das idades e dos consumos musicais - dos Rolling Stones aos Arctic Monkeys -, todos somos tentados pela fruição ou pelo escape. Um festival como o Super Bock Super Rock é isso: a possibilidade do prazer e da descoberta. Uma possibilidade camaleónica: urbana ou campestre. Adolescente ou adulta. Do rock ou da música de dança.
De todos os festivais portugueses de música com tradição, o Super Bock Super Rock, é o que já mudou mais vezes de roupagem. Ao longo de 16 anos, já se realizou nos mais diversos locais - da Gare Marítima de Alcântara ao Parque Tejo, passando pelo Estádio do Restelo, no ano passado (houve até um tempo em que tinha metade do peso no Porto).
Em 2010, volta a mudar de lugar, para a Herdade do Cabeço de Flauta, perto do Meco, não muito distante das cidades de Sesimbra e Lisboa.
Ou seja, de festival totalmente urbano transita para uma lógica semi-urbana, espalhando-se ao longo de três dias que permitem quer a fixação no local, numa lógica de praia e campo, quer idas e vindas dos centros urbanos mais próximos. Ali mesmo, entre os pinheiros, realizou-se durante alguns anos o Festival Hype@Meco, que decorria apenas numa noite e era direccionado para as diversas linguagens da música de dança.
Não custa, por isso, projectar que o público será constituído por um misto de adolescentes, que permanecerá no local durante os três dias, e de assistência mais madura, que se deslocará ao recinto para desfrutar de um ou outro nome mais apelativo do cartaz. E eles não faltam, num cartaz que mistura nomes do rock e pop alternativo e das tipologias dançantes. Do que já se conhece, os Pet Shop Boys e os Keane poderão ser os que atrairão mais público disperso, mas os mais militantes poderão concentrar-se noutros concertos. Os americanos The National, Vampire Weekend, Beach House, Sharon Jones & The Dap-Kings e St. Vincent, os ingleses Jamie Lidell e Wild Beasts, ou os australianos Cut Copy e Empire Of The Sun são alguns exemplos.
Para quem gosta de dança, é um festival que promete, com as electrónicas minimalistas do chileno Ricardo Villalobos, do canadiano Richie Hawtin e da alemã Magda, para além da habitual consistência do já veterano francês Laurent Garnier. Ele próprio, como o festival, um verdadeiro camaleão. Vítor Belanciano
Super Bock Super Rock
Datas: 16 a 17 de Julho
Local: Herdade do Cabeço de Flauta, Meco
Preços: 40 euros (1 dia) a 70 euros (passe)
Sines é música do mundo e se a música é do mundo também os seus visitantes o são. Ou melhor: são de Lisboa e não há gente que se julgue mais cosmopolita do que os lisboetas.
Por isso, o lisboeta entre os 25 e os 35 anos, mal chegam os últimos três dias de Sines, tira o fato e a gravata, tira a saia-casaco obrigatória no escritório de advocacia, vai a casa num instantinho e do armário tira não o fato de malha elástica e a capa de super-homem mas sim algo de mais poderoso, o verdadeiro elemento de vestuário potenciador da transformação do ser: as calças em balão e a camisola de alças. Isto nas mulheres.
Porque somos todos dominados pela América é preciso durante três dias vestirmo-nos como os americanos que acham que somos todos dominados pela América, isto é, usar uma versão exótica de roupa africana. Alguém que vista calças em balão sabe onde e porque é que se usam calças em balão? Não. Mas que importa? É diferente. (Curioso é que os músicos que em palco se vestem de forma tradicional fora do palco vestem as belas roupas do Ocidente.)
Se se ouve uma melodia vagamente árabe, faz-se uma dança do ventre - por amor às raízes culturais. Se se houve forró, tenta-se dançar como uma preta - por amor às raízes culturais, mas também às hormonas.
Que ninguém se engane: há tanto desconhecimento cultural entre o povo que vai a Sines sobre a música e as culturas que passam naqueles palcos, como há desconhecimento cultural entre o povo que vai a Paredes de Coura ou ao Rock In Rio.
E, no entanto, Sines merece o melhor de todos os que lá assentam os pés e abanam o rabo. Porque de facto é o único festival português em que do princípio ao fim há grande, tremenda música, e ainda por cima a organização dá-se ao trabalho de escrever bons textos, esclarecedores, contextualizados e conhecedores sobre todos os artistas escolhidos para actuar. A selecção musical é feita por alguém cujo amor à música é tremendo - pelo que a escolha tem critério, arrisca e não tem medo de pôr os mais estranhíssimos artistas no palco principal na última noite.
Não por acaso, Sines tem sido alvo de uma procura cada vez maior por parte dos media estrangeiros - no ano passado houve até concertos gravados pelo Mezzo. E não por acaso há artistas que interrompem as festas de propósito para actuar naquele festival, sendo que a maior parte deles volta lá mais tarde, passando do palco na praia para o palco principal até ter a honra de fechar o festival.
E, admita-se, por muita ignorância cultural que haja da parte de quem vai lá mais pelo exotismo, há verdadeiramente ali um espírito de tolerância e uma saudável atitude de vamos-lá-ver-no-que-isto-dá. J.B.
Festival de Músicas do Mundo de Sines
Datas: 23 a 31 de Julho
Local: Sines (Castelo, Centro de Artes e Avenida Vasco da Gama)
Preços: A definir
Ah, Paredes de Coura... O defeito pode ser nosso, claro, que assistimos a qualquer coisa da ordem da epifania a meio de uma tarde de Julho (ou de Agosto, ou lá o que era: foi há cinco anos, e nessa tarde ficámos irremediavelmente mais velhos, e quando somos mais velhos a memória, ah, a memória, onde é que isso já vai), mas não estamos sozinhos nisso.
Todos os milhares de pessoas que, ano após ano, chegam ao festival à espera de ver outra vez os Arcade Fire (mas não os Arcade Fire como eles foram depois: os Arcade Fire dessa tarde maior do que a vida em que, caraças, o céu e a terra pareceram ter mudado de lugar) terão sempre Paredes de Coura. Não é bem um festival: é uma espécie de "Rosebud" colectivo da verdadeira comunidade indie. É aqui que ela está, não no Optimus Alive! em frente a esses maravilhosos MGMT que infelizmente (raiva) Paredes de Coura não fisgou primeiro. Haja o cartaz que houver, nenhum outro festival da área do pop e do rock poderá nunca dizer que é mais independente do que este: há anos em que Paredes de Coura não tem sequer unhas para chegar ao alto patrocínio de nenhuma das grandes marcas de telemóveis e de cerveja. Pode ser uma tragédia para a organização; para os espectadores, é um suplemento de superioridade moral (a juntar à superioridade moral de terem sido os primeiros a ver os Arcade Fire). Como se Paredes de Coura fosse a irredutível aldeia gaulesa resistindo heroicamente às diabólicas concessões da verdadeira música ao capitalismo global.
É uma superioridade moral, digamos, ibérica: a maioria dos indies (não confundir com os índios: mas que os há, há) de Paredes de Coura ainda fala português, mas há muito castelhano (sobretudo galego) a passear-se pelo imbatível anfiteatro natural do recinto. É claro que, lá no meio, além do típico indie "fashionista" da grande cidade (no caso, a grande cidade do Norte e Centro de Portugal e da Galiza), há muitos rapazes da terra, indies acidentais ali do Minho, miúdos de férias, sem grandes ambições relativamente ao que se passa em palco, e a inabalável guarda de honra da banda que, em cada edição, a organização vai buscar ao cemitério das velhas glórias do rock para a sua secção "o que é feito de?" (já houve de tudo, dos Sex Pistols aos Specials do cartaz deste ano, passando pelos Cramps e pelos Bauhaus).
Paredes de Coura, ah... Quem lá vai, mesmo nos anos em que olha de lado para certos delírios da programação, não o trocaria por nenhum outro - e veste completamente a camisola (tem o melhor cartaz, o melhor recinto, e em nenhum outro festival de Verão se está tão perto dos rojões míticos ou da refundadora feijoada do Corno do Bico do Conselheiro). Às vezes tira-a para ir em biquíni e calções ao banho nas águas (geladas, também não há disso nos outros festivais) do rio Coura, ou para se agasalhar até aos dentes, galochas e impermeáveis incluídos, porque em Paredes de Coura chove - sempre!, e esse é todo o encanto - como se não houvesse amanhã. Também não há disso (ah!) nos outros festivais de Verão. Inês Nadais
Festival de Paredes de Coura
Datas: 28 a 31 de Julho
Local: Praia Fluvial do Tabuão, Paredes de Coura
Preços: 40 euros (um dia) a 72 euros (passe)
Para os portugueses, até há não tanto tempo quanto parece, um festival de Verão com investimento em não sei quantos dias de tenda e isolamento rural era coisa hippie e cámone vista em tela de cinema ou reproduzida de forma bissexta no Minho, em Vilar de Mouros, anos 1971 e 1982. Revelá-lo hoje ao povo maioritariamente adolescente que habita a Herdade da Casa Branca, nas proximidades da Zambujeira do Mar, provocará certamente olhares de espanto. Bem, talvez não olhares de espanto. Antes um "ah, pois" pouco interessado em velhas histórias de finais de 90, bem mais disposto a olhar em frente. Porque em frente existem rodas gigantes e ofertas de patrocinadores, existem palcos no recinto, palcos fora dele, matraquilhos na zona de restauração, uma praia bem perto e uma vila à mercê do pessoal que, durante cinco ou mais dias, vive numa realidade paralela, transformando-se no processo nessa categoria de população a que se dá o nome de festivaleiro.
Para os festivaleiros recentes do Sudoeste, é difícil imaginar um tempo em que ele, pura e simplesmente não existia. Sempre esteve ali, tão firmemente em Agosto como os Santos Populares em Junho. Sem sardinha mas com cadeias de "fast food", sem idosos de míni e manjerico mas repleto de miúdos e miúdas com hormonas em ebulição, sem arraiais populares mas com rock e pop e tenda electrónica e um palco dedicado ao reggae que é um mundo dentro do mundo que é o Sudoeste (corre em surdina que é uma espécie de Triângulo das Bermudas do festival: quem ali passa, nele fica aprisionado até o último "rewind Selecta!" quebrar o feitiço).
Hoje, apesar de a programação se equilibrar entre os pesos pesados aglutinadores, no palco principal, e os nomes de culto espalhados pelos secundários, a maioria do público vai ao Sudoeste para ir ao Sudoeste (ocasionalmente, há quem galgue quilómetros em viagem de ida e volta para não perder uns Faith No More).
Em 1998, o ano em que os Portishead deram um dos concertos históricos do festival, andava por lá pessoal do hardcore que jurava estar ali apenas e só para os concertos de Ratos de Porão e Sérgio Godinho (o resto do tempo, explicavam, iriam passá-lo em protesto narcótico no parque de campismo). Muito público que este ano estará no Sudoeste, e que lá esteve em anos recentes, terá uma relação semelhante com os nomes em cartaz (ainda que por razões diferentes).
As betas que já não se enquadram na tipologia clássica, com as tranças freak e os óculos escuros antes exclusivo do fiel amigo barbudo de Michael Landon em "Um Anjo na Terra", agora epítome do cool, ou os tipos de tronco nu e t-shirt presa nos calções, atarefados a equilibrar vários copos de plástico vazios, que trocarão por mais cerveja num dos postos de reciclagem; eles e elas, dizíamos, não passarão o tempo a correr de concerto em concerto.
Na edição deste ano, muito agradará a uns a presença de M.I.A., Flaming Lips ou Beirut, e outros tantos irão concentrar-se nos regressados Jamiroquai ou Massive Attack. Certamente que haverá curiosos bem informados à espera dos The Very Best e nostálgicos ansiosos pelos vienenses Kruder & Dorfmeister. Quanto ao resto, deambular é preciso.
Há tanta distracção, tanta coisa para ocupar o tempo, tanto convívio para cumprir, que no Sudoeste já ninguém monta "protestos", como os punks de 1998, por exclusividade estética. O Sudoeste é o Sudoeste. Um festival de música, certamente. Mas que, por vezes, dá a sensação de se ter tornado maior do que ela. M.L.
Sudoeste TMN
Datas: 4 a 8 de Agosto
Local: Herdade da Casa Branca, Zambujeira do Mar
Preços: 40 euros (1 dia) a 80 euros (passe)
Fonte: Ipsilon
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